Impressões do mundo
Malhando
No caminho para a biblioteca pública estadual, passo em frente a uma academia cujo slogan é “Pare de pensar e venha malhar”.
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Desejo do dia
Paciência
Ao fígado
Peço paciência ao meu coração todos os dias. Como estou achando que ele é surdo, vou passar a pedir a outros órgaos, menos atribulados, como o fígado e o apêndice.
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Desejo do dia
Gentileza urbana
Irritando Desireê Antônio
Sente-se ao lado da Desireê no ônibus
Retire um pacote de jujubas da bolsa
Abra-o lentamente, fazendo o máximo possível de ruído
Coloque uma jujuba na boca
Masque a bala com a boca aberta e faça bastante ruído
Passe a língua pelos dentes para tirar os resquícios da bala
Repita o procedimento anterior até acabar com as jujubas
Jogue o papel pela janela do ônibus
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Desejo do dia
Para quando você vier
objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
do eterno Leminski, em “Caprichos e Relaxos”
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Desejo do dia
Desrespeitando completamente a bela pena do filósofo, resumo o ponto central do texto: bajuladores tentarão se passar por amigos do alvo de seu interesse, buscando estabelecer semelhanças com eles. Dirão que gostam das mesmas coisas, que sentem as mesmas emoções e que passam pelos mesmos dilemas.
Mais do que isso: eles tentarão ser agradáveis a todo custo. Estimularão o ego de seu hospedeiro e não se furtarão em se humilhar para fazê-lo. É na descrição desse comportamento que encontrei uma das passagens mais hilárias que já li num texto de Filosofia. Reproduzo-a abaixo:
Com as boas qualidades, ocorre totalmente o oposto: ele é leve na corrida, mas você posssui a rapidez de um pássaro; ele monta bastante bem, mas é que é isso perto de um centauro como você? Eu tenho algum talento para poesia, ele dirá, e faço muito bem um verso, mas cabe apenas a Júpiter lançar um raio. Assim, ele parece apaludir seus gostos, já que os imita, e confessa, deixando-o vencer a superioridade de seus talentos.”
Para ser franco
A melhor lição do livro, pra mim, foi a discussão sobre o uso da franqueza. Por mais deselgante que seja admitir, a ideia de ser franco, pra mim, sempre esteve ligado a ser mal-educado, a esse elogio aos que dizem “as verdades na cara, doa a quem doer”.
Quando comecei a trabalhar, vi que para algumas pessoas ser franca e ser grossa são quase sinônimos. Parece que no jornalismo há uma certa tolerância à falta de tato, seja de editores para com os jornalistas e ou dos repórteres com os estrevistados, uma noção estranha de que quanto mais mal-educado, maior a garantia de que o trabalho saia bem-feito.
Durante algum tempo, achei que isso era normal e aceitei o jogo. Depois, vi que não valia a pena, que seria melhor procurar uma outra via para cobrar ou para tratar de assuntos indelicados.
Encontrei nesta passagem a seguir a descrição do modo como gostaria de ser franca ou que fossem francos comigo.
“A franqueza exige muito mais arte por ser, nas mãos da amizade, o remédio mais eficaz, quando empregado apropriadamente e temperado sabiamente pela doçura; a cura que ela proporciona, como já dissemos, é frequentemente dolorosa.
Imitemos, portanto, os cirúrgiões que, após amputar um membro, não abandonam os doentes com seus sofrimentos, mas adoçam a ferida com fomentações.
Do mesmo modo, aqueles que repreendem com habilidade, quando introduzem no coração o lado mordaz da censura, sabem temperá-la com propostas doces e consoladoras. […]
Portanto, evitemos, com o maior cuidado, quando repreendemos nossos amigos, abandoná-los imediatamente, e terminar nossa conversa com palavras humilhantes que possam feri-los.”
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Impressões do mundo
Casar pra quê?
Encontro no meu Google Reader, dentre os itens compartilhados por meu colega e jornalista Kleyson , a seguinte pesquisa sobre os motivos que levam as pessoas a se casarem.
Confesso que os resultados me surpreenderam: achei que mais gente se casava esperando receber utensílios domésticos grátis.
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Desejo do dia
Amanhã, a minha irmã começa a fazer aulas de direção, o ponto alto de seus esforços para tirar carteira de motorista.
Custeado pelo meu irmão, que queria que mais alguém da casa dirigisse, além dele, o programa “Daphne rumo ao volante” teve início há quase dois meses, quando ela prestou o exame psicotécnico e logo depois se matriculou nas aulas de legislação.
Durante esse tempo, eu acompanhei de perto e até me envolvi um pouco com seus estudos sobre leis, placas e infrações de trânsito. Num dos dias em que ela pediu que eu a arguisse, eu notei o quanto detalhe e informação burocrática era preciso guardar para dirigir.
Alguns dirão que é necessário saber tudo isso, afinal, a direção coloca a vida das pessoas em risco. No entanto, há muitas atividades que podem prejudicar_ e muito_ a vida de alguém que não exigem o mesmo preparo. Seria deselegante o bastante para incluir o jornalismo, mas essa é uma discussão que não pretendo ter aqui nem agora.
Para sustentar meu argumento, busquei exemplos de cargos ou funções fundamentais cujo mau exercício poderia arriscar a vida de alguém, e o melhor exemplo que encontrei foi a sagrada instituição da paternidade.
De modo geral, ter um filho não exige nada além de condições biológicas que permitam a sua geração. Não é preciso comprovação de renda para garantir sua subsistência tampouco que se ateste que os pais fazem pleno de suas faculdades mentais.
Prova para pais
Particularmente, sou contra o funcionamento desse sistema reprodutório. Acho que deveria ser instituído algum tipo de prova para aqueles que pretendem ser pais, uma espécie de exame para obter a “carteira nacional de paternidade”.
Após testes psicológicos, atestado de bons antecedentes e um curso sobre cuidados básicos com seres humanos dos zero aos 18 anos, o casal, seja qual composição tenha, poderia receber a habilitação.
Só depois do recebimento da licença, os futuros pais poderiam se dirigir ao Denap (Departamento Nacional de Paternidade) e entregar seu pedido a uma das cegonhas que atuam no órgão. Antes, nada de bebês.
O prazo de nove meses seria mantido porque o departamento funcionaria com o atual ritmo da burocracia brasileira. Bebês prematuros, obviamente, mais raros, seriam fruto dos esforços de algum servidor jovem e recém-nomeado.
Conforme ele fosse se adequando à cultura corporativa, passaria a liberar os pequenos com os nove meses devidos.
Aos que acham a medida extrema, pensem que cenas como a retratada acima poderiam ser menos frequentes.
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Impressões do mundo
Das condições
“Não dá pra ter bônus sem ter ônus”, do meu amado, querido, sábio e saudoso amigo Marcelo, de quem ja falei antes, domingo, numa conversa por telefone.
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